Escravidão

Escravos de hábitos traiçoeiros

Vamos vivendo de repetições

Incorporadas no silêncio da rotina

Transformando dias em opacos blocos

Uniformes de uma mesma parede

E nesta repetida e rígida seqüência

De construção em batuta orquestrada

Vamos assentando o material

Rejuntado na argamassa do tédio

Multiplicado em religiosas iguarias

Escravos da tirania consumista

Vamos depredando nosso entorno

Na nomenclatura da matéria prima

Acabamos nivelando toda a criação

Desmantelando até a auto-estima

Caímos submissos a ídolos sem face

Passando a aceitar a fé da destruição

Definindo-a como um mal inevitável

Vamos sublimando o natural

E revivemos à base-dose dos remédios

Escravos de uma ânsia pelo poder

Teimamos em esquecer o que é sagrado

Despistando a implacável cortina

Tentamos enganar o tempo em vão

Sem entender que a obra é impossível

Persistimos nessa louca mutação

O verde vivo e a vida água esmorece

Vamos do natural ao artificial

Envolvidos no êxtase desse assédio

Formamos as fileiras da tropa do mal