Cheiros da Pobreza
Miséria cheira a sebo,
A ambiente engordurado.
Odor pútrido e fétido
Do trabalho duro,
E mal pago.
Miséria cheira a ralo,
O cheiro da exploração;
Desigualdade, injustiça;
Roubo e corrupção;
Cheira a falta de escolas,
Trabalho, dignidade e pão.
Tem o odor das latrinas
De Direitos roubados,
Como Saúde e Educação.
Miséria cheira a dejetos,
Propinas, abusos
E descasos.
Pobreza de alma cheira
A dinheiro público desperdiçado.
Pobreza também cheira
A Esperança:
"Um dia a coisa vai mudar!"
De tirar das palafitas,
Aqueles que flutuam lá.
Viver em palafitas,
Lá vida isso é?
"Morada miséria pedindo socorro" (1)
Cheira a favela, no meio do lodo
"Ninguém fica imune
Crescendo no esgoto" (2)
O cheiro da miséria espalha-se pelas cidades
Chamando a atenção dos cegos
Que lá não querem ver.
Se um dia esse cheiro te encontra
Quero ver o que vais fazer.
Ainda mais se vives
Como quem não sente
Que o Rolex no braço,
Em terra de indigentes,
É um tapa na cara
De muita gente!
Mas ainda há tempo
Para que possas acordar!
Se tens dinheiro, ajuda
Alguém a se levantar.
Miséria é realidade.
Dinheiro é papel.
Não tarda o dia em que dirás:
De nada me adianta bolsos cheios,
Se deles não posso gozar.
Desvia os olhos do próprio umbigo
Tempo ainda há.
Pois dos maus cheiros,
Pior que o egoísmo,
Isso te digo, não há!
(1) Trecho da canção Mocambo, autoria de Antônio Vieira.
(2) Trecho da canção Tempestade (Christian Oyens / Zélia Duncan).