Madrugada
Uma voz, um grito, um estrondo qualquer
andando ao relento na madrugada fria
de inverno cavernoso ouço vozes, gritos,
estrondos. Em cada esquina asquerosa
um ruido, um som diferente, em cada
calçada imunda do tempo um mendigo
deitado, sentado, dormindo.
Em outras ruas, em outras calçadas,
em outras esquinas mulheres desfilam
de mini-saias, decotes ou só de calcinha
e sutiã, quase nuas, mulheres da vida
que devem a vida e se entregam só
de corpo para o mundo porque
alma já não existe mais.
Em cada rua, calçada ou esquina
uma surpresas meninos, garotos,
jovens, crianças se reúnem-se em lugares
alheios e experimentam o vicio de sua
decadência. Na madrugada andando ao relento
ouço vozes mudas, sozinhas, vejo almas sujas,
almas mortas, almas sombrias.
Madrugada na cidade mulheres se vendem,
mendigos dormem acordados, vândalos
fazem arruaça, meninos se perdem
nos prazeres sem sentido da vida.
E as vozes continuam a gritar, com
mais força e mais ainda. As vozes
mudas, vozes de esquinas, de ruas,
de calçadas, vozes de todo canto
da cidade sombria, vários mundos
distintos, num mesmo mundo,
todos iguais e cada um com sua
estrada os buracos nascem e as
vozes gritam de acordo com
a conduta de cada um.