Desiquilibrio humano
Ontem fui verdade, início, começo, festa, adereço. Ontem fui amor, paz, palavra, desejo. Fui mesmo feito de um beijo. Ontem, mas, ontem morreu, foi para guerra, sufocou seu grito pela fome do mundo, pelos andrajos da vida. Sufocou seu grito pelas ogivas nucleares prontas a dizimar, a pôr pelos ares, exterminar com a humanidade. Sufocou seu grito pela descrença, a má fé pela falta de redistribuição de rendas. Sufocou seu grito pelas rodas das vestes em rendas decadentes, deixando o pecado de fora, coxas alucinantes. Sufocou seu grito pelos “motéis” quase cheios, às nove da manhã, enquanto crianças pedintes, sombrias, vagam, buscam o pão pela rua. Ontem morreu quando se foi a lua, sufocou o grito e fugiu, deixou tudo para hoje. E que hoje haja uma nova esperança, para que a humanidade não fique afeita a sufocar seus gritos e que hajam manhãs claras nos amanhãs da vida, para que eu possa tornar a ser, ser o que ontem fui.