Elegia a um povo a beira do caminho
Nossa Senhora da Luz
_ iluminai os caminhos !
imploram no barraco pobre.
enrolado em trapos imundos
o corpo jaz sobre palhas,
nem sombra de que um dia fora
Cacique... Chefe orgulhoso !
quase dois mil anos
antes das conquistas ibéricas.
povos com traços malaios
cruzavam o Continente, passos lentos
mães com filhos juntos ao colo
homens carregam lanças, sementes
na busca de caça, terra férteis.
cruzou Gabriel de Lara, explorador
a Serra do Mar na busca d’ouro
Bandeirantes de Antônio Domingos
chegaram ás margens do rio Atuba.
viram a imagem de Nossa Senhora da Luz
olhos voltados para os Pinhais, -Curitiba-
habitantes da terra, saudaram o Chefe Branco
um aceno de Paz, arcos no chão desarmados.
começou aos poucos, a derrocada
subjugados pelos co-irmãos, os guaranis
descobridores, jesuítas,suas naus,suas cruzes
novos males, novas crenças, seu “progresso”
Guaianá, o último reduto, resistiu
Mas... o espectro das reservas , os rondava
mescla de culturas, na miscigenação
criou a identidade de Riograndense
A rede, o chimarrão e o algodão
fincaram profundas raízes
como a contribuição do negro
“esquecidos” nas histórias oficiais
o código ,condena: incapazes,selvagens
Um grito ecoa, selva de pedra, concreto
mestiço, sangue negro, branco ... bugre
errantes dos becos escuros, ...andarilhos
fabricantes de cestas, balaios.
calçadas- moradas, flechas partidas, vidas quebradas
tetas magras , caídas... orgulho ferido, enterrado.
donos da terra, mãos estendidas, esmolando comida
Manchete estampada nos jornais
morrem aos chutes, pontapés, pedradas
imolados , para divertimento de loucos.
o crepúsculo frio, cessa o cântico
calou-se um povo que não tem mais sonhos
apenas vagar, mendigar, prostituir, beber
resquício de uma raça, que vive nas sarjetas
Nossa Senhora da Luz
_ iluminai os caminhos !
lhes devolva à terra...o céu
caminhos para encontrar Tupã
aos poucos que ainda restam deste...
Povo do Mato, Kain-guangue.