SOCIEDADE CEGA
Criança abandonada
Estigma das autoridades
Habitante das calçadas
Luta ferrada, no dia-a-dia da sobrevida.
Desacariciada e ferida
Lançada ao infortúnio
Qual desastroso temporal
Semblante feroz jovial
Ser humano brutal.
Descrente, na solidão
Afeita à gíria e a agressão
Palavrório de baixo calão.
Constantes isolamentos
Fugas e internamentos
Separados e no meio o rebento
Forjado ao eterno relento
Contornando o “ego”, a violência.
Vida de insatisfações
Perigosas precipitações
De ambições não conquistadas
Transformações complexadas
Confusões interiorizadas.
Experiência insuficiente
Carrega imagens distorcidas
Cheias de impressões doídas
Tropeçando no primeiro obstáculo.
Criança marginalizada
Despejada nas ruas e praças
Tributo ao aperfeiçoamento
Da profissão vadiagem
“fora-da-lei” pelas margens
burilando um brutamontes
amansando o mundo-cão
vivendo como excremento
vai empunhando a patente
enquanto a Sociedade Cega
parece mais reluzente.