Desabafar Poético - XXIX
Desabafar Poético XXIX - Crítica
Tentamos ser coisas melhores,
Mas no final de contas, o que somos?
Somos um lixo sem exência
Rastejando por detrás das portas...
Não temos mais nada!
Nossos olhos tão escuros são tão cegos,
E nossas veias tão podres só escorrem veneno e poluição!
Não ouvem-se mais palavras! Não ouvem-se mais sussuros...
Não ouvem-se mais risos sinceros.
Ouvem-se sons de orgia e de morticínio,
Ouve-se a ignorância bater sempre nas mesmas janelas
Nas mesmas mentes fechadas adentra-las
Como se fosse uma lâmina que corta o simples pedaço de pão...
Não Existe mais nada! Não existe definitivamente mais nada!
O que é o amor? - Hah! Mentira!
O que é o sofrimento?
- É o cotidiano, o todo dia do trabalhador,
Daquele que carrega cinqüenta quilos de cimento nas costas,
Para receber um nada e um misero pedaço de farinha amassada!
Zombaria de um povo que não cresce, que nunca há de crescer!
Um povo que não entende o que é razão, o que é atitude,
Um povo que só vive para festa e de festa se consome,
Como se entreterimento suprisse a necessidade da alma!
Tirasse o vazio estupido da existência inexistente...
E nós somos apenas nada, pó e grão. E ainda assim,
Somos alguma coisa... E alguma coisa muito reles e cruel.
Entretanto, não são estes devaneios... Isto, não é um devaneio!
Não me importa o plural, o presente, o singular, o pretérito e o futuro!
Não importa, não importa o quão correto ou errado eu esteja!
Ninguém me ouve, nenhum ouvido ouve mais nada...
A mesma batida em quatro por quatro e três por três
Já estourou os timpanos de cada um;
tan-tan-tan, tan-tan-tan, tan, tan, tan, tan-tan-tan...!
E isso, é uma guerra, e é civil!
Porque não têm um militante armado para defender essa misera população!
Por que ela mesmo se destrói e se devora...
Com a fumaça inebriante que embriaga mais que o vinho,
Mais até que meu próprio vício! Junto, com o pó branco
Que destró as narinas e o gênio;
A loucura é criada, e cada loucura é diferente uma da outra,
Porque cada loucura é uma personalidade,
E cada arma, na mão de cada cidadão, de cada morro...
De cada Rio, de cada Janeiro, é um exemplo da mais pura
locura generalizada... Matar a si mesmo, matar aos outros,
E principalmente ao próximo e ao próprio ser, é desumano.
Mostra de uma humanidade não-humana, uma espécie em estinção
Que se auto extingüe... Há super população? 'Pra quê se preocupar(?)
Se no final todos morreremos com uma bomba atômica... De um povo
Que só pensa em guerra, só pensa em destruição, guerreia com si em si próprio
Arás de poder, e ouro negro. Esse ouro negro, sujo e oleoso,
Que escorre nas mãos transformando-se em dólares, verde, dinheiro...
Não importa! Para eles, isto importa, para mim, não!
Eu? Ah! Apenas quero uma tarde tranqüila, um pôr-do-sol em frente
Ao rio Gaíba, ou algo menor... Algo bem menor e bem mais insignificante!
Talvez, libertar um pouco da minha ignorância, conseguir lutar contra ela
Sem ser covarde, sem cantar este mesmo hino que canto durante dezessete anos!
- "Avante covarde que tem medo da saudade! Avante!"
Sempre viajante nas mãos errantes da solidão...
- Piegas... Muito piegas! Mas essa é a verdade, pelo menos, para mim.
Não existe mais muita coisa a se dizer...
Os carros passam... Sobem e descem aviões e eu continuo nesta mesma cidade,
Inerte neste mesmo tédio que me consome, como estes meus olhos de traidor
Que antes tanto me traíam, agora se esvaem apenas em disconfiança e sombras,
- Meus olhos são de lobo, mas não mais de sonhador...!
E lembrar de poemas antigos e gritar: "Adeus meus sonhos, Adeus!"
Porque eu realmente já não sonho mais...
- silêncio -
Uma canção antiga soa ao longe!Não ouvis?!
Ah, é uma propaganda! É uma reles propaganda!
Não existe mais exência, não existe mais existência...
Há apenas um viver descontrolado e vadio!
Não sou puritana e estou longe de sê-lo,
Porém ao menos, ainda zelo o que acho verdadeiro e necessário.
Não quero me fugir mais da natureza,
E a cada segundo nós nos aproximamos e nos distanciamos,
É como se fosse uma corrida em que não saíssemos do lugar!
Apenas quedamos nos deteriorando, consumindo à baixo da terra,
Aos poucos... Bem aos poucos, um dedo, um pé, um braço, uma mão...
E no final, o cérebro e o coração...!
Como os demônios se deliciam com tamanha tortura!
Como os anjos riem de escárinio... E esse Deus fajuto, inventado por
Um povo que quer o poder se saboreia com o sangue de todos os seres em suas mãos...
Em suas sádicas maos, tateando o sangue que passa pelas entranhas,
Pela pele, pela perna... Gemendo o gozo de um prazer sádico, vadio e leviano,
Uma volúpia vestida de morte e sofrimento humano...
E no final, porque somos chamados de humanos?
Se a palavra "humanidade" tiver haver alguma coisa com bondade ou benevolencia,
Seja tal sentido em quaisquer era havida... Ha-ha-ha-ha-ha.
Somos então, tão humanos quanto o pior dos dragões-de-comodo,
A pior das aranhas, das viúvas negras. Até o mais vil dos seres,
A mais cruel das bestas infernais das mitologias, qualquer uma que seja,
É mais humana do que nós. Eles não matam entre si por deleite, matam por necessidade.
E nós temos esse sadismo entre os dedos, e esse masoquismo, sofrer e gostar disso!
Pior, jamais deixar de desisitir, pois lutamos, e lutamos sempre!
Como no velho bordão brasileiro, "Sou brasileiro e não desisti nunca!"
Mas, claro! Desistir para quê? Estou na linha da miséria!!
E ainda há esse pseudo otimismo disfarçado de positivismo,
"Ordem e Progresso" Mas como disse antes, e a bunda da mulata? Que sucesso!
É tudo fajuto! A ordem pertence a quem? Ela nunca será do povo!
A ordem nunca é do povo... É sempre daquele que tem mais e está no poder...
Para poder dominar um povo ignorante presisa mantê-lo alheio ao conhecimento,
Precisa deixar todos em escuridão... Fome e miséria,
Pão e circo é o que o povo quer, dê isso a eles e estarão em suas mãos.
Tu os controlarás como todo o gado, como as melhores ovelhas da escócia;
- Por que não? Eles têm o que querem...
Só que o que o povo necessita é de mais! Há de ter educação para crescer!
Entretanto, as coisas caem! As paredes racham! Infiltrações!
Tudo acaba em segundos... E tudo desmorona 'num ato final!
Sabe porquê? Porque todos nós estamos acoleirados à algo tão vil e cruel,
À uma situação tão deploravel, uma inferioridade obrigada que nós mesmos a cultivamos...
Não podemos chegar ao poder neste estado, devemos ser mais, e assim seremos!
Nem que para isso morramos de fome, tédio e pavor.