"VIDAS SECAS"

Um homem, uma mulher,

dois meninos a pé

– sertão.

Largueza de terras,

eitos de muito chão,

latifúndios de céu e sol;

léguas e léguas, verde nenhum,

paisagem sem pastagem

– solidão.

O verde e a chuva sepultados

nos olhos, nos confins, no coração.

E os retirantes se arrastam,

à frente a cachorra Baleia,

no silêncio da incomunicação.

Pobres emigrantes, maltrapilhos,

pisam o pasto do gado,

irreal pasto, de gado igual,

tudo irreal

– em sertão surreal.

Nenhum bicho sobrevivente,

sequer nenhuma arribação,

só a família que emigra

– só as “vidas secas” que se vão.

***

[Desentranhado do livro homônimo

de Graciliano Ramos, “Vidas secas”,

transformado em filme magistral]

Fort., 26/01/2009.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 27/01/2009
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