Velho abandonado
Velho abandonado
Esparsos olhares por sobre o nada
Em nada vendo além do tempo passando e passado
Sozinho em conjecturas mil
Saudades quem sabe de uma prole, sua prole
Quem sabe saudades de tantos que já partiram
Ou ainda saudades daqueles que o abandonaram
Passos trôpegos, mão trêmulas
Salário de fome, desilusão;
Já não ouve o cantar dos passarinhos;
Já não conta mais histórias;
Já não conta com ninguém.
Velho abandonado atrás da grade de um portão;
Portão, quem sabe de uma vida além dos muros;
Quem sabe da sua derradeira prisão;
Esperando um filho, um neto, compaixão;
Pobre velho desamparado, triste ancião.
Viaja nos seus sonhos dourados, imaginação;
Acorda sobressaltado, bengala num canto;
Remédios por sobre a mesinha, coração;
Cansaço no meio do dia, recordação;
Visita no fim de semana, ilusão.
Triste humano, alma saudosa;
Pedindo solícito uma prosa, atenção;
Ao fim do dia recolhe-se contrito, terço na mão;
E na hora da ave Maria ainda reza;
Por tantos que lhe deixaram na solidão
Triste velho esquecido;
Abandonado num asilo;
Sem amor sem atenção;
Esperando a morte chegar.
Tristes velhos abandonados,
Quantos não se encontram nessa situação?
Guilhermino, 26 de janeiro de 2009.