Sopro marginal

Eu escrevo para salvar a minha alma,

Pois sou palavra como a montanha é grandeza.

Sou palavra como a água indomável na procela.

Sou palavra como o caminho que pode não dar em nada.

Sou palavra, signo concreto da abstração.

Sou mero acaso convertido em filigranas.

Sou palavra enquanto violador de folhas brancas.

Sou feito de sinais e sons.

Sou colo espinhoso onde a incógnita se espairece.

Sou algo único no mundo

E, que nem por isso, é diferente ou útil.

Sob minhas imperfeições paira o contraste

Entre o belo e efêmero... entre o horripilante e o eterno.

Sou a hospedaria vazia,

A senzala atopetada de seres obscuros e obscurecidos.

Sou o medo, o meio, a merda, a média, a medida...

Medéia de tantos desacertos e desassossegos

Assombrando, assomando em meio à pradaria

E sou também, e apenas, a marginália

Que delimita, mas norteia, os caminhos sacrossantos.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 26/01/2009
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