Sopro marginal
Eu escrevo para salvar a minha alma,
Pois sou palavra como a montanha é grandeza.
Sou palavra como a água indomável na procela.
Sou palavra como o caminho que pode não dar em nada.
Sou palavra, signo concreto da abstração.
Sou mero acaso convertido em filigranas.
Sou palavra enquanto violador de folhas brancas.
Sou feito de sinais e sons.
Sou colo espinhoso onde a incógnita se espairece.
Sou algo único no mundo
E, que nem por isso, é diferente ou útil.
Sob minhas imperfeições paira o contraste
Entre o belo e efêmero... entre o horripilante e o eterno.
Sou a hospedaria vazia,
A senzala atopetada de seres obscuros e obscurecidos.
Sou o medo, o meio, a merda, a média, a medida...
Medéia de tantos desacertos e desassossegos
Assombrando, assomando em meio à pradaria
E sou também, e apenas, a marginália
Que delimita, mas norteia, os caminhos sacrossantos.