Palmares dos Brasões falidos aos alienígenas fraudadores de mitos!

Palmares, Mata Sul Pernambucana.

Início da noite.

Dia quente.

Na janela,

Sentindo o vento,

Vejo gente.

Nada novo diante da minha morada.

Gente que passa para as escolas noturnas.

Gente com pressa para jantar.

Gente com pressa sem ver a gente

Gente tão triste e outra muito contente!

E o vento morno trás o cheiro dessa gente:

Gente com cheiro de banho, perfumada;

Gente com cheiro de labuta, toda suada...

E mesmo sem ver nada de novo diferente,

Sempre surge algo a quebrar a monotonia

Inexistente no todo dinâmico jogo do viver,

Dessa gente teimando em cruel luta para se ter

A básica sobrevivência dessa Mata falida.

E ouço uma voz:

“- Boa noite, seu moço! Pode me dá uma ajuda? Qualquer coisa serve!”

Falo à minha mãe, “um pão, frutas para o camponês aflito!”

E enquanto resolve a esmola, um canto surpreende meu sentido:

“- Lá pros lado de Barreiros,

Lá na Usina Cucau,

O Coronel José Múcio,

Mandou pintar

Todos os caminhão de azul!...”

E com um riso de agradecimento pela comida,

O barbudo trabalhador desempregado continua:

“- Eu que compus esta música. É pra brincar de guerreiro. Eu canto e danço. Gosto muito de brincar de guerreiro. Em todo lugar que tem, eu brinco de guerreiro.”

E continuou cantando, enquanto andava:

“- Lá pros lado de Barreiros,

Lá na Usina Cucau,

O Coronel José Múcio,

Mandou pintar

Todos os caminhão de azul!...

Eu gosto de ser guerreiro! Eu Gosto de brincar de guerreiro!”

Onde os Reisados e Guerreiros,

Onde os caboclinhos,

Onde os Maracatús Rurais,

Da Zona da Mata Sul Pernambucana?

Onde as tradições de Palmares,

Antes rica e hoje pobre com tanta cana?

E na cultura, -voz dessa gente,

Há tanta coisa a ver deprimente:

- Os maracatus foram sufocados!

- Os caboclinhos estão acabados!

- Os guerreiros estão esfomeados!

- Os pastoris foram escanteados!

- Os Reisados foram descoroados!

Um camponês dançarino:

Um poeta brincante,

Esmolando, errante,

Com uma família, retrato da fome,

Bem ali, do outro lado da rua onde resido,

Na calçada, perto da esquina da Funerária Humanitária,

Tendo como trilha sonora

O som do apito da Usina Vitória,

Fumegando o lucro do usineiro,

Soprando fuligem nos ares que nos sufoca,

Vomitando vinhoto no Rio Una sofrido.

Ai meu Deus! Tanta coisa sem sentido!

E eu poeta, a soluçar em verso

Pelo que o povo é avesso,

Sem ver o rio que chora cego

Pela vinhaça ou vinhoto;

Sem ver que a Historia é repetida,

Mesmo sendo personagem um outro

Que pintou postes, meios-fios

E canteiros das praças,

Com o mesmo azul de cemitério

Dos caminhões da Usina Cucaú.

Não é brincadeira, falo sério!

O Guerreiro poeta pode ser preso, acusado de bandido

Por estar esfarrapado pelas calçadas.

Mas quem não cuida do meio ambiente, fica impune

E recebe títulos de benfeitor social e é escolhido candidato,

Junto com o outro que é coronelista e truculento de fato,

Aplaudido pelo povo que ele chamou de poeira.

Assim vive toda essa gente sem eira nem beira,

Robotizada pelo marketing depredador do entendimento,

Devido à falta de aculturação e educação;

Vitima de um Sistema cruel, depredador das tradições e patrimônio cultural.

Em nenhum outro lugar do mundo, nunca vi barbaridade e absurdo igual!

Terra de clãs temidos,

Famílias patriarcais.

Monarcas resquícios,

Coronéis de terras hereditárias:

Paranhos, Paiva, Miranda Maciel...

E outros brasões, poucos tantos mais,

Construtores das lendas senhoriais.

Hoje, a queda dos brasões

Cedeu lugar aos emergentes

E clãs formados por outras gentes

Vindas de outras terras agrestes,

Em busca da doçura do açúcar da Mata

E do clima de transição entre litoral e agreste

Para aqui também impor nova Lei inconteste

Sobre povo iludido, submisso da terra ingrata.

Se os Paranhos deixaram a terra e quiseram metrópoles,

Surgiu novo clã de família de camponeses a crescer:

Hoje, os Almeida Melo lideram o Império do Açúcar,

Das estivas dos maiores armazéns e até postos de combustíveis.

A esperteza, supera tradição de intelectualidade em todos os níveis.

Eita! Terra dos Poetas escanteados ou nos auto-exílios!

Do sepultado tradicional Clube Literário, em todo Brasil respeitado;

Hoje, cidade primeiro lugar nas estatísticas de violência do nosso Estado!

Sempre no quadro sócio-político se prova,

Pelo que o mando do poder econômico aprova.

E cada clã enriquecido, entra na luta infame

Da refrega sócio-politiqueira, crescente a cada instante

Pelo poder do mando e da manipulação das massas;

Como gado bovino, levadas ao abatedouro eleitoral.

É terra para gente de outras terras

E apenas poucos filhos dela, nela cresce.

Pela aculturação juvenil não se investe,

Os jovens são atraídos pela migração.

Ignorância leva à auto-punitiva maldição.

Sem espaços para bairrismos,

É um povo cujas esperanças

Não conhece xenofobismos:

Acolhendo, de braços abertos e supervalorizando

Quem aqui chega, com falsas palavras discursando.

Dando grandes espaços para alienígenas,

Fraudadores de mitos e falsas promessas.

E até em Japaranduba, da Família Paranhos,

Uma das terras mais temidas,

Vimos dependências da Rádio Quilombo

Fácil e rapidamente invadidas.

Mostrando que atualmente quem manda

É o clã dos Magalhães Lyra.

Solidariedade deixou de existir,

A não ser para quem a grana suprir

E mandar no ritmo da festa.

Que na rua, só para isso o povo presta

E ainda comemora no Bloco da Poeira,

Por ter sido comparado ao que é sujo,

Nojento e investe em toda porqueira!

Tudo gira em torno dos clãs senhoriais,

Das famílias Magalhães Lyra,

Coutinho e Almeida Melo;

Circulo vicioso, cruel pesadelo!

Cada um defendendo teóricos ideais,

Pelo poder do mando governamental,

Investindo em marketing fenomenal,

Na maquiagem dos nomes dos líderes

Que o povo espera seguir e resolver

Problemas do desemprego e da fome.

Tudo isso, desaculturação é o nome!

Época da volta de truculência coronelista,

Trucidamentos das tradições e do patrimônio cultural.

Poder econômico, a propaganda enganosa,

Falsos discursos prometendo ilusões;

Na usurpação do poder, nepotismo e plutocracia implantada,

Cujas armas é a calúnia,

O vilipêndio e a injúria.

Pisam nas Leis e compram frágeis lideranças

Entregues ao medo e à subordinação.

Não há espaço para quem cria e livre pensa.

E quem teima e a teimosa resistência intenta

É ridicularizado e discriminado

E pela corja servil acusado

De louco ou infame agitador.

E até meu verso de amor

É traduzido como subversor,

Mesmo sem fitas colorizadas

Pelas tendências ou facções partidárias políticas.

Mas vivo livre em consciência fiel às lutas artísticas!

Palmares, 8 e 9 de março de 2006.

© Jaorish Gomes Teles da Silva

Do livro QUIXOTESCÂNTICO

Mais informações e venda do livro no site do autor: www.jaorish.xpg.com.br

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Jaorish
Enviado por Jaorish em 14/01/2009
Código do texto: T1383923
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