AS ARQUITETAS DO MUNDO
Elas nos esperam,
Sejam por bem ou por mau.
Elas nos alimentam,
Com seu leite e seus escrúpulos.
Elas nos fazem nascer na hora,
E no dia programado.
Temem nossos tormentos
São nossos tormentos.
Amam nossas vidas,
Mais do que nós mesmos somos capazes.
Decidem por nós; pensam por nós.
Elas escolhem o medo que teremos
Preparam carinhosamente os traumas.
Criam os mitos e nos limitam o infinito.
Ensinam-nos a voar,
Pra depois prenderem uma pesada corrente em nossos pés.
Nos faz rir
Mas se comprazem em nos fazer chorar.
Fazem tudo sempre com a melhor das intenções.
Destinam para nós,
Um pequeno, mas confortável espaço no muro.
Desde pequenos
Como madeira bruta,
Somos formados e trabalhados
Pelas mãos destas abençoadas arquitetas.
Que um dia foram formadas por outras,
Que foram por outras, que foram por outras e etc.
Modificando pouquíssima coisa no trabalho final.
Eis o grande afã da humanidade:
Fazer a maioria dos homens
A sua imperfeita imagem e semelhança.
O que é diferente espanta,
O que é estranho nos desespera.
Na luta do dia-a-dia poucas são as armas que nos dão.
E muito infelizes se indignam se cairmos no chão.
Somos maquinas potentes
Robôs programados pelas doces mãos das arquitetas.
Sorrimos do que as fazem rir.
Choramos do que as fazem chorar.
Acreditamos nos mitos que elas acreditarem.
Trepamos da maneira pudica ou impudica que nos indicar.
Somos todos adultos crianças
Velhos adolescentes.
Sempre protegidos ou assombrados
Por suas sombras.
O mundo é delas.
Os governantes são delas,
Os governados também são.
Os inteligentes são delas,
Os idiotas também são.
Os felizes são delas,
Os infelizes também são.
As recatadas são delas,
As putas também são.
Os homens são delas,
As bichas também são.
Os bons cidadãos são delas,
Os psicopatas também são.
Sentadas em suas poltronas
Com suas novelas,
Escandalizam-se com o mundo que vê.
E ai de nos se discordarmos.