As vezes sou favela,
outras tantas comunidade
Também me chamam periferia.
Mas o nome não importa,
O problema é a hipocrisia.
Sim porque ninguém quer resolver
As feridas que correm pelo meu corpo.
Ou o sangue contaminado das minhas veias.
Como sou favela, quanto mais longe melhor.
Por isso mesmo sempre fico na periferia
Nas áreas centrais atrapalho.
Passa ano e sai ano, todos prometem
Mas ninguém tem coragem de me conhecer.
Conhecer na verdade e com toda a honestidade.
Porque no meu corpo, mora gente de bem
Mas quem se importa?
Ah sim, tem hora que sou notícia.
Normalmente um dos meus perde a vida
Com a tão comentada bala perdida.
Outros tantos, perco para o tráfico.
Mas que importa, desde que não incomode os cidadãos.
Mas os que moram em mim, o que são?
Pagam impostos quando consomem.
Mas não recebem nada de volta.
Daí, quando um dos meus se revolta.
Dizem que é assim mesmo. Até porque já nasce taxado.
"Ah, esse ai é mais um favelado."
Favela, realidade. Intensa comunidade
Vida que se irradia. Pena que os poderosos insistam
Em deixar-me continuar sendo
SOMENTE PERIFERIA?