1969

(Dedicada a um menos soldado, mais homem.)

Marcha soldado

Cabeça de papel

Marcha direito

Direto pro quartel

E o beleléu

Vá ao encontro de tua amada

Que é senão teu fuzil

ou espingarda

Perde estes momentos

a tua mocidade

Escuta tua canção

Feita de tiros e bombardeios

de som ensurdecedor

Vá aprender a amar

Amar não a quem amas

Amar a Pátria pela força

Força armada

Ela te chama ao serviço militar

Ela te dá o ensinamento

de como matar

Matar para defendê-la

Mas por que defendê-la matando?

Isto ela não te ensinará jamais

Vá aprender artimanhas

Manobras

Aprenda a esquecer que és homem

Aprenda a sentir-te "objeto"

Tuas mãos são feitas para manejar

teu fuzil

Teus dedos são para apertar gatilho

Não tens mãos para afagar

Teus olhos são para enxergar o inimigo

Não para ver os de tua namorada

Teu cérebro deverá calcular armadilhas

Não cérebro que pensa

que acalenta

que cria

Teu cérebro é feito só para mecanizar

aquilo tudo que aprendes

Raspe teu cabelo

Cabelo é vaidade humana

Não podes ser homem

És soldado!

Vista tua farda

Outras vestes poderiam dar-te

a sensação de homem

És soldado!

Não esqueça teu capacete

Ele é feito para encobrir tua cabeça

Para que não tentes pensar

Tens que mecanizar

És soldado!

Toma teu trem toda manhã

Ele te leva para o mundo teu

Mundo frio e calculista

Mundo da tua cama suja

dos teus pés que cansarão da marcha

Marcha

Corre

Atira

Ouve que lindo som!

É um canhão que ecoa

Vá para o mundo dos projéteis

Esquece teus projetos de rapaz

Guarde bem os teus ensinamentos militares

Se um dia a Pátria necessitar de ti

terás de usá-los

Teu trem não te vai esperar

Quartel, teu mundo encantado

de desencantos

Vá aprender a odiar

Vá aprender a matar

Vá aprender a não ser gente

Cuidado, a PE!

Olhe o coronel!

O capitão!

O sargento!

Prontidão!

Sentido!

Para o quartel volver

Um, dois...

Um, dois...

Esqueça que eu existo

Porque só te vou atrapalhar

Estás em serviço militar