O Sapateiro

Chamam-no Simão, Simão sapateiro

Trabalha numa rua bucólica, lúgubre até

Não possuí máquinas

Parou no tempo, há séculos atrás

Conserta sapatos, arruma vidas

Dança em salões, marcha em paradas militares

Sem sair do cepo de três pernas, com assento de tiras de couro surrado

Soar compassado do martelo

Entre a borracha e o pé-de-ferro

Olhos miúdos, pince-nez na borda do nariz, colado com fita adesiva

Vê resignado o presente e o passado

A vida flui a largas passadas

E, Simão nem nota

O rosto sulcado, as mãos calejadas

Sem distinguir dedos, de cola

A tosse rouca, unhas carcomidas

Solas, fivelas, agulha curvada

Simão deixa a vida correr na janela

JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
Enviado por JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES em 12/04/2006
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