O Sapateiro
Chamam-no Simão, Simão sapateiro
Trabalha numa rua bucólica, lúgubre até
Não possuí máquinas
Parou no tempo, há séculos atrás
Conserta sapatos, arruma vidas
Dança em salões, marcha em paradas militares
Sem sair do cepo de três pernas, com assento de tiras de couro surrado
Soar compassado do martelo
Entre a borracha e o pé-de-ferro
Olhos miúdos, pince-nez na borda do nariz, colado com fita adesiva
Vê resignado o presente e o passado
A vida flui a largas passadas
E, Simão nem nota
O rosto sulcado, as mãos calejadas
Sem distinguir dedos, de cola
A tosse rouca, unhas carcomidas
Solas, fivelas, agulha curvada
Simão deixa a vida correr na janela