Menor Abandonado

MENOR ABANDONADO

(Escrito em 1995)

Onde eu nasci? Não sei.

Jogado nas ruas eu fui.

Enrolado em jornais, fiquei.

Depois que mamãe deu a luz.

Quem são meus pais? Não sei.

A rua foi quem me criou.

Jogado na FEBEM, fiquei.

Até fugir daquele horror.

Foi aqui na rua que achei.

Àquele que meu pai, se tornou.

Ensinado pôr ele, roubei.

Usar drogas, ele me ensinou.

Escolas, Eu não freqüentei.

Não tive quem me desse amor.

Num marginal, me tornei.

Se existe culpado, eu não sou.

Fugir da polícia, eu passei.

Na prisão eu não quero ficar.

Da sociedade, inimigo, virei.

Traficantes querem me matar.

Esta é a vida que eu conheci.

O governo não quer nos ajudar.

Da Candelária, a chacina, eu vivi.

No meu dia a dia, tento escapar.

Estatuto da criança, ouvi.

No papel ele não tem valor.

Aplicar o estatuto, não vi.

Ninguém quer nos livrar dessa dor.

O Brasil inteiro esqueceu

Suas crianças, nas ruas, jogou.

O futuro, que nas ruas, nasceu.

É o presente, que o Brasil rejeitou.

Para onde vai o nosso Brasil.

Que o seu futuro não quer preparar.

Tirar das ruas, a criança, infeliz.

Que no futuro vai nos governar.