ELA
ELA
NEGRA VELHA ENRUGADA,
CANSADA DA VIDA LEVADA,
DORMITA À SOMBRA DOS CEDROS
EMBALADA NOS SONS DOS NETOS
GASTA DE TANTAS HISTÓRIAS CONTAR,
DESESPERADA DE TANTO ESPERAR,
NUMA VIDA DE FOME, MISÉRIA E DOR
SONHA COM CARINHO E AMOR.
NEGRA DESCALÇA, ENROLADA NO PANO,
FILHO NAS COSTAS QUINDA NA CABEÇA
TRAZ NA BARRIGA O FILHO DO ANO
NA ESPERANÇA QUE NÃO ENFRAQUEÇA
NO QUIMBO, NA VELHA CUBATA,
O SOM DA CHUVA BATENTO NA LATA,
ESPANTA A GALINHA ATREVIDA
QUE ESPERA O FIM DA VIDA.
A PANELA PRETA DE TANTO ESPERAR,
ARDE NO FOGO FAZENDO LEMBRAR
O PIRÃO, A MANDIOCA E O QUIABO
Ó AVÓ, É O DESTINO DO DIABO,
E A VELHA NEGRA ESFOMEADA,
CONTA MAIS UMA HISTÓRIA PASSADA.
ESPERANDO A FILHA QUITANDEIRA,
CONTINUA A PANELA NA FOGUEIRA.
O VENTO SOPRA LEVE A TUNE FUMAÇA,
CRIANDO LÁGRIMAS NO ROSTO ENRUGADO
OS NETOS SAEM CORRENDO OUVINDO O GADO
E O PASTOR CANSADO DEIXA DE LADO A VELHA CABAÇA
O SOM DO BATUQUE COMEÇA A ENTOAR
A NOITE ENTRA, E TUDO SE ACALMA
É A HORA DO CREPITAR DAS CHAMAS
É MAIS UM DIA QUE VAI PASSAR.