ELA

ELA

NEGRA VELHA ENRUGADA,

CANSADA DA VIDA LEVADA,

DORMITA À SOMBRA DOS CEDROS

EMBALADA NOS SONS DOS NETOS

GASTA DE TANTAS HISTÓRIAS CONTAR,

DESESPERADA DE TANTO ESPERAR,

NUMA VIDA DE FOME, MISÉRIA E DOR

SONHA COM CARINHO E AMOR.

NEGRA DESCALÇA, ENROLADA NO PANO,

FILHO NAS COSTAS QUINDA NA CABEÇA

TRAZ NA BARRIGA O FILHO DO ANO

NA ESPERANÇA QUE NÃO ENFRAQUEÇA

NO QUIMBO, NA VELHA CUBATA,

O SOM DA CHUVA BATENTO NA LATA,

ESPANTA A GALINHA ATREVIDA

QUE ESPERA O FIM DA VIDA.

A PANELA PRETA DE TANTO ESPERAR,

ARDE NO FOGO FAZENDO LEMBRAR

O PIRÃO, A MANDIOCA E O QUIABO

Ó AVÓ, É O DESTINO DO DIABO,

E A VELHA NEGRA ESFOMEADA,

CONTA MAIS UMA HISTÓRIA PASSADA.

ESPERANDO A FILHA QUITANDEIRA,

CONTINUA A PANELA NA FOGUEIRA.

O VENTO SOPRA LEVE A TUNE FUMAÇA,

CRIANDO LÁGRIMAS NO ROSTO ENRUGADO

OS NETOS SAEM CORRENDO OUVINDO O GADO

E O PASTOR CANSADO DEIXA DE LADO A VELHA CABAÇA

O SOM DO BATUQUE COMEÇA A ENTOAR

A NOITE ENTRA, E TUDO SE ACALMA

É A HORA DO CREPITAR DAS CHAMAS

É MAIS UM DIA QUE VAI PASSAR.

stavi
Enviado por stavi em 30/12/2008
Reeditado em 01/01/2009
Código do texto: T1359140
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