QUARENTENA
QUARENTENA
Quarenta e poucos dias,
E quantos mais serão
Nem água, nem pão
Só algumas rações frias
Rios de sangue e dor
Lá longe, ficou a paz
Pobres, e triste sabor
E tudo mais se desfaz
Crianças procuram os pais,
Já mortos entre escombros
Outros viraram canibais.
Pesado fardo aos ombros
Terra preta, terra queimada
Quem disse minha terra
Uma e outra mãe violada
Numa esquina ou numa serra
Oh negras almas quem vos pariu
Que dores de parto suportaram
Quem tanta gente feriu
Ficando impunes, para aonde foram
Chove na terra árida
A face preta da lua
Quer esconder a verdade nua
De uma violência incontida.
Gente devassa, crentes falsos
Onde se cicatriza as chagas
Desprezam-se os verdadeiros passos
E não há tempo para pragas