Noites sob os jornais
Noites sob os jornais
Apesar de ter dormido enrolada
Entre as notícias, anúncios
E tantas palavras, não cheguei
A ficar emocionada, contaminada.
São tantas noites entre as letras
Que de todas, conheço as várias facetas
E para todas faço mil caretas
Pois debaixo da marquise, ou da trovoada
Elas estão lá separadas ou em revoada
Tentando me embrulhar, fico enjoada.
Vida assim, parece até folhetim!
Tenho medo de tudo, de nada!
Posso amanhecer com cara romântica
Dormi coberta sob lençóis inspirados
Posso amortecer com cara sofrida
Nem deu tempo para a despedida.
Vida errante, de eterna viajante,
Não tenho tempo para ser ocupante
Só, à noite, sob os lençóis e as estrelas
Meu medo, se torna mesmo preocupante.
De levar uma cravejada
De ser assassinada, de ser pisoteada
Ah! Noite sob os lençóis de jornal
Pode ser emocionante e fatal!
Certa vez, um caso banal!
Pensei tornar-me par, casal!
Apenas uma noite de amor total
Coberta sob lençóis de jornal!
Amanheci solitária novamente
E cobri-me logo envergonhada
A multidão me acolhia com olhar sôfrego
Naquela manhã quase perdi o fôlego.
Ao ver estendido ao meu lado
Numa poça de sangue
O corpo esfaqueado do meu namorado,
Talvez já distante anjo alado!
Amo as noites sobre as marquises
Com gosto de chuva, trovoada
Poeira, e brisa fria na madrugada
Amanhecer cheirando café de estrada.
Amo minha vida errante e engraçada
Também tenho medo da emboscada
Faz parte do papel que ele me deu
Na noite em que fui sua amada
Mendiga, errante, eterna viajante
Amando sob as madrugadas
Seguindo os passos na alvorada
Procurando minha alma amada
Sonho acordada na noite
Sob os lençóis de jornal
Tão bom eu fosse letrada
Tiraria de mim este mal
Poderia achar em um certo jornal
Talvez um trabalho, não sei,uma ocupação
Desta vida, sairia para ser “normal”
Ter sossego e paz no coração.