Cobrança Burocrática

Eles pediram papéis:

Provas de vida.

Meu curriculum vitae,

informes pessoais gerais...

Disseram que desejam ajudar

e precisam de papéis.

Eles pediram papéis

para outros vêm provas.

Papéis são provas da minha vida...

Por mais ser de outra dimensão vivida,

querem minhas marcas em traços

dos meus terrenos vividos passos,

- importantes para eles

para outros, sei lá quem mais...

Eles ingerem papéis

(papéis em gestos).

Eles digerem papéis

(papéis indigestos).

Eles anseiam papéis

(papéis histéricos).

Eles pensam papéis

(papéis sistêmicos).

Querem fatos,

Querem fotos...

Fotografam meu rosto:

Querem a cópia do meu corpo,

em papel foto sensível...

Baseiam-se em Leis

para invadir minha privacidade!

Querem o gesto estático...

Querem a cópia da minha voz,

contanto que não fale deles,

contanto que não os macaqueie...

Parece uma compra e eu não estou à venda.

Sendo Poeta-Ator, difícil não satirizar!

- Adorariam qualquer coisa contra os inimigos deles!

E procuram posicionamentos de ontem e de hoje,

contanto que sirvam aos ditames deles!

E eu não tenho inimigos, amo todos os seres

na Dimensão Superior de nascer Artista,

desvario fora do consumismo: anarquista!

Nenhum poema fará parte desse curriculum vitae?

- Não, tem que ser tudo concreto,

pedem experiência administrativa.

Nada de subjetividade,

nada de sonâmbulos sonhos, nem utopias!

Disseram querer competência.

Como podem provar competência,

sem provar sensibilidade?

No papel, somente com um poema

prova-se uma sensibilidade!

E as fotos?

Outras falsidades:

Máscaras!

E a alma sensível do Artista,

como registrar no curriculum vitae?

Faltou a foto Kirlian da minha aura?

- Será que aceitam ou entendem

este instrumento da metafísica,

quando entregam-se ao cartesianismo governamental?

Talvez devo deixar bem claro:

“Jaorish Gomes Teles da Silva,

nascido diplomado pelo Pai Eterno,

com o Dom da Arte, vida após vida,

perambulando nesse Planeta,

tendo agora nascido com esse mérito!”

Será que importará

como eu chorava quando criança

ou como nasce o riso em minh’alma?

Será que improtará

como eu vejo, com olhos de poeta,

a garota morena que passa

com pele refletindo o sol do meu país,

ancas ao ritmo de sonho-poema?

Terão condições, nesses papéis,

saber como mergulho diariamente

nas dimensões angelicais,

em busca da bem-aventurança infinita?

Esses papéis poderão mostar

partículas de amor

que repasso em gestos de solidariedade

e a partícula onde componho paixões?

Não sou um viajor discrente

da Origem Infinita,

na cosmicidade de Ser gente,

Sou Humano em terra ausente,

muito além estrelas.

Nenhum papel prova sentimento,

a não ser como um poema.

E nenhuma representação da vitae

está completa sem o retrato d’alma,

sentida apenas pelos corações sensitivos

além dimensão desta bruta terra.

No mundo, muitos papéis

para seres embrutecidos

e puros humildes de coração,

sem papéis para interpretar...

Neste ciclo vicioso

na trama da crueldade,

suicida-se a sociedade,

procurando-se em papéis errados,

o que encontra-se na pauta d’alma.

URL DO ÁUDIO DO POEMA RECITADO PELO AUTOR: http://www.recantodasletras.com.br/audios/poesias/17918

Poema publicado no livro RECICLAGEM DE SENTIMENTOS (1ª Edição publicada dia 7 de Setembro de 1998, 2ª Edição publicada em março de 1999 e 3ª Edição Publicada dia 30 de Dezembro de 2004)

Mais informações no site www.jaorish.xpg.com.br

Jaorish
Enviado por Jaorish em 21/12/2008
Reeditado em 21/12/2008
Código do texto: T1347353
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