SER POETA
Fácil não é... Ser poeta
é ter nas costas o mundo;
é sublimar as desgraças;
é do não-ser ir mais fundo.
Ser poeta é do mais simples
tirar das coisas a essência,
exaurindo-se em ternura
e às vezes não ter clemência.
Não queiramos que o poeta
seja o mágico da vez,
que resolva os próprios casos
nem as paixões de um chinês.
Um vate põe pé no chão,
mas mora no firmamento.
Por isso, certos incautos
lhe moldam comportamento.
Uns dizem: “Vive nas nuvens
esse menestrel pirado.”
Outros, mais benevolentes,
dão-lhe o mundo por legado.
De um poeta não se espere
largo nem fácil sorriso;
mesmo que não seja amargo,
dele o marcante é seu siso.
O bardo alinha valores
dentro d’alma, seu inferno,
mas, na vez de ser chamado,
é sempre terno e fraterno.
Justifica ser poeta
é ter um engajamento,
e não contemplar os cirros,
sendo à vida desatento.
Assim é tal um poeta:
a pena como um formão,
mesmo a cabeça às avessas,
e o mundo no coração.
Fort., 14/12/2008.