EXODO RURAL
ÊXODO RURAL
TENHO SAUDADES
QUANDO VOLTO PRA MINHA TERRA
PARECE CLIMA DE GUERRA
QUE DEVASTOU O FUNDÃO
QUE BONITO AQUILO ERA
HOJE QUASE TUDO TAPERA
SÃO CAMPOS ABANDONADOS
POR SEUS ANTIGOS PROPRIETÁRIOS
NAS MÃOS DE LATIFUNDIÁRIOS
QUE PELO SOCIAL DESINTERESSADOS
ANTIGAMENTE EU LEMBRO AINDA
ERA COISA TÃO LINDA
DOS DOIS LADOS DAS ESTRADAS
AS PLANTAÇÕES BEM VARIÁDAS
TRIGO, FEIJÃO E MANDIOCA
MILHO, BATATA E PIPOCA
CRESPINHOS DE CERENO
TERRA NATURALMENTE NUTRIDA
PRODUZINDO BOA COMIDA
NUTRITIVA E SEM VENENO
HOJE QUASE TUDO NO ABANDONO
SEUS ANTIGOS DONOS
MUITOS MORRERAM
OUTROS CORRERAM
DESSE MUNDÃO QUE SE EXPANDE
FUGIRAM PRA CIDADE GRANDE
ILUDIDOS PELA AMBIÇÃO
O FAMOSO EXODO RURAL
DE MALA E CUIA PRA CAPITAL
PERDENDO-SE NO MUNDO DA ILUSÃO
LEMBRO QUE ANTIGAMENTE
HAVIA BASTANTE GENTE
PLANTANDO DE TUDO UM POUCO
AMAMENTANDO GUAXO
MELADO NO TAXO
E NUVILHA PRENHA
QUEIJO E LEITE NO TARRO
FORNO DE PEDRA E BARRO
FOGO DE LENHA
AQUELES VELHOS TEMPOS
DA COLHEITA DO FEIJÃO
TRILHADO ASSIM NO CHÃO
SOBRE UM PEDAÇO DE LONA
AO SOM DE UMA CORDEONA
E CAUSOS DE BOITATÁ
CAIA TUDO DO TALO
A CASCO DE CAVALO
OU BATITO DE MANGUÁ
JÁ SE FOI OS VELHOS TEMPOS
DO FEIJÃO GROSSO COM TOIXINHO
MELHOR SE FOSSE NO VISINHO
ERA SEMPRE MAIS GOSTOSO
E AQUELE LEITE ESPUMOSO
BEBIDO ASSIM NA HORA
O VELHO E TRADICIONAL APOJO
ANTES DE APRESILIAR O AJOJO
E DE CALÇAR A ESPORA
POBRE SOLO INVENENADO
COM A TAL DE PESTICÍDA
MULTICULTURA ESQUECÍDA
SISTEMA SAUDÁVEL E IGIÊNICO
NÃO HAVIA ESSE TAL TRANGÊNICO
QUE SURGIO COMO UM ENCANTO
SIENTIFICAMENTE MODIFICADO
QUE DEIXA O PLANTADOR ATRELA
A ESSA MALDITA MONSANTO
INCHARAM AS GRANDES CIDADES
VIERAM AS CALAMIDADES
E O EMPOBRECIMENTO DO POVO
FAVELAS SERVINDO DE ESTORVO
PARA OS ADIMINISTRADORES
SONHARAM COM UM MUNDO EM FLORES
E COLOCARAM OS MORROS EM GUERRAS
ACAMPADOS EM BEIRA DE ESTRADAS
FAMILIAS DESESTRUTURADAS
POIS LHE SURRIPIARAM SUAS TERRAS
NOSSOS MANANCIAIS POLUÍDOS
E UM POVO SOFRIDO
VIVENDO DE ESMOLA
CRIANÇAS SEM ESCOLA
AS VEZES CAINDO NAS DROGAS
OS BANQUEIROS COM O BURRO NA SOGA
DIFICULTANDO A SITUAÇÃO
O DINHEIRO NA MÃO DO ESPERTO
E O INTERIOR VIRANDO DESERTO
E IMPOBRECENDO O POVÃO.
ESCRITO EM 26/06/2005 POR
VAINER DE ÁVILA