AS CASAS
casas com formatos de cabras
se remendando imitando uma caixa
tudo zumbe
a elas são coladas
novas fórmulas e formatos
pentes e sapatos femininos
desenhos e radiolas de meninos
brinquedos e remédios de anciãos
donzelas aguardam na torre
sem promessa de príncipe ou resgate
nas casas há meninos magros
nas casas há meninas mortas
nas casas há mulheres e navios
porém os últimos condensados em forma de assovio
nas casas atômicas e sem céus
os retratos são feitos de paisagem
que se movimentam e até mordem
os ratos telegrafam sem rota ou licença
as saudades são sentidas
como se sente a presença de um bicho
estarrecido sai o grito do menino
mas um grito sem pulmão
um grito cariado e sem ressonância
um grito sem mensagem e desinteressado
nas casas tudo geme
nas casas o correio não bate palmas
as mãos temem qualquer aplauso
nas casas a comida não é solene
tudo é comido em si mesmo
sem glórias e sem talheres
nas casas não há vida noturna ou recreios
seu expediente é como numa repartição pública
nas casas não há pessoas
são nelas que o censo erra
nas casas não há casas
nas casas o nada é uma realidade
cheia de coisas de se pegar