MORTE DE UM MENDIGO

Emudeceu a voz mendiga

Paralisou a mão

Em compasso de espera.

Os pés cessaram a rotina

De perambular.

O bolso rico

Continuou intacto

E os dos pobres se socorrem

Num intercâmbio de misérias.

Calou a voz

Na exatidão do momento

Em que apagou a primeira estrela:

A vida deixou de ser sopro

E a fome deixou de ser

Na atrofia do estômago,

Na utopia dos dedos

Que nada receberam à véspera.

Jaz o corpo

Entregue a Deus de madrugada.

O apelo virou libertação.