FÁBRICA DE CORAÇÕES DE PEDRA
Hipócrita é o prosaico proceder da sociedade de harpias, abutres
E hienas:
Esta transmuda um anjo picaresco em flor de lúcifer,
Que brota na plaga da sazonalidade da indômita violência,
Para depois crivá-lo de balas do mais ultrajante agravo,
Inumando-o no solo da proscrição e do eterno ódio temerário.
Ela não vê que não consegue andar por si mesma.
Na verdade, ela é controlada por um misterioso vetor,
Mergulhado em bruma de intangibilidade,
Fazendo-a refém de sua malévola vontade.
Não, ela não vê, nem sonha
Que está a mercê de mestres reais da rapina:
Ah, estes querem erigir jardins e mais jardins de Pandora,
Onde possam semear flores e mais flores do anjo caído,
Para que assim contentem seus insaciáveis deuses vampiros,
Fazendo-os libar a perniciosa seiva arrivista da alegria Cosmopolita.
Ela não depreende que, ao aceitar a penumbra
E ao se deixar ficar no hemisfério de claridade da penumbra,
Desprezando a tristeza dos seus irmãos, relegados ao reino do Opaco,
Ela planta sementes desesperançosas e colhe portanto
Rosas desprovidas de vivas auroras.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA