ADORADOR DA MISÉRIA

Um morcego perscruta ao longe

Duas flores da credulidade em desespero

Caminhando a esmo.

Rapace em pele de bom-moço,

O morcego irrompe como um raio de esperança

A órbita daqueles indefesos despojos do sol da tragédia,

Forçando-os argutamente a chafurdar-se na areia

Movediça do ultraje:

O ultraje de ser um inconsciente refém do grotesco:

Transmudando-se num Clowm,

Que, ao dar duzentos pulos sobre uma corda,

Massageia o ego dos filhos do lado opaco da penumbra:

Em verdade, desventurosos órfãos do sol da autoconfiança.

E o morcego ao fim do sórdido espetáculo se regozija:

Ao mostrar contentamento pelo triunfo do incauto paladino da Sobrevivência,

Ele camufla a exultação de degustar

A temerária humilhação alheia.

Entrementes, o açucênico homem,

Imerso em seu insobrepujável mundo de credulidade,

Não percebe o dolo, a maldade, o agravo

Que emana da magnanimidade do mamífero sanguinário!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA