Menor abandonado
Tua carinha é matreira, teus olhos querem gritar
Tua mão foge sorrateira, quando te pego a furtar.
Foges rapidamente, ladeira a baixo
Teus perseguidores violentamente
Atiram-te ai chão, você chora agora
Mal sabem todos como és artista.
Em voltar ao mesmo local não demora
Pois a escola da vida o ensinou.
O manto da fome é espesso
Vira tuas entranhas pelo avesso
E pedes ao deus clemente
Que te tire este fel fervente.
O vento castiga-o torturante
O frio entra pelos trapos, sem piedade
O tremor de teu corpo é incessante
Você chora nesta dura realidade.
Tua cama é o asfalto
Teu prato um latão de lixo
Matar o frio só com assalto
A fome... quem sabe?
São rostos desconhecidos, negrinhos,branquinhos
Magrinhos
Olhos vivazes, incapazes
Ossos apontados, descarnados
Você precisa viver.
A escola da vida o ensinou
A roubar para comer
A roubar para viver
A roubar para sorrir
A cheirar para sonhar
Existem milhares de verdugos, múltiplos juízes
Que lhes prega muitas peças
Que viram sua vida as avessas
E a solução/
Depende de nossa bondade
Dar-lhes um pequeno espaço
Nesta grande humanidade
Que não é tão humana
Onde o amor anda escasso.