DORMIR, SONHAR...

Não pode o poeta ter sono tranquilo

com a indigência batendo à retina,

com a fome na janela do rosto,

com o clamor ao pé do ouvido.

Dormir, quem há de dormir?!

Pudéramos, companheiros, poder

sonhar, antes dormir, depois sonhar.

Aqui, a seca; enchentes no Sul.

Nordeste, agreste, sertão...

Inóspito ao homem, nicho da sequidão.

Flagelo de crianças tão meigas,

flagelo de mulheres tão tristes,

flagelo de homens tão explorados.

É já madrugada, companheiros.

Mas a noite maior é sentir a poesia

na teia da insônia das injustiças

– e o pão, nas mesas, mal dividido.

(Agosto, 1983)

Fort., 21/11/2008

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 21/11/2008
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