OS DOIS LADOS DO VIDRO

No meio da Avenida

Viam-se meninos,

Meninos sem nome,

Descalços,

Ainda de fraldas,

Diversos tamanhos

Com cores diferenciadas,

Mas eram meninos,

Pobres crianças

Exaustas de viverem

Recriminadas pelos olhares

Impetuosos dos adultos.

Hoje são meninos

E amanhã;

O que haverão de ser?

Cabelos ao vento,

Empurrados aos carros

Que de vidros fechados

Ignoram seu encanto,

Querem atenção

Muito mais que dinheiro,

Querem uma palavra;

Um obrigado

Por seus malabares,

Porém o descaso

Do bicho maduro

Faz da vida desses meninos

A insegurança de um olhar,

Que hoje ainda é doce,

Cheio de graça

Pois, são só meninos

Na Avenida da vida

Querendo atenção,

Um pouco de brilho

Para sua escuridão.

Querendo ser amanhã

O seu hoje,

E esquecer que um dia

Foram meninos,

Meninos de rua,

E tendo seu carro

Simplesmente fechar o vidro

Para outros meninos,

E desfazerem-se

Do duro passado

Ignorando o outro,

Como o bicho homem

Costuma fazer,

Sem racionalidade

Sem firmeza,

Apenas porque tem medo

Dos pobres meninos,

Meninos artistas

Que tiram da Avenida

Seu sustento

E que não tem orgulho

De ser menino,

Menino de rua,

Que amadurece com a falha

Causada pela injustiça

De um bicho homem

Que de vidros fechados

Se sente mais bicho,

Mais forte,

Do que o Ser menino,

Que olha tristonho

Do meio da Avenida

Para o vazio;

O infinito descaso

Que ele mesmo tem,

Do homem que está

Preso do outro lado do vidro.

Daiane Durães
Enviado por Daiane Durães em 20/11/2008
Reeditado em 20/11/2008
Código do texto: T1293954