PAÍS-CIRCO

Querem que galguemos os degraus do alheamento

Até chegar ao cume do não sentir mais:

Não sentirmos mais a nós mesmos.

Então, para que nós o alcancemos,

Nos colocam em jaulas onde residem leões modernos

Cuja mordida não fere, não sangra,

Não nos conduz á mortuária câmara.

Porém, esta provoca o ressoar de risos eternos

Que, como uma chuva ácida, dissolvem todos os tipos de metal:

Sim, até o mais indissoluto tipo: qual? O daquele que compõe

E reveste o espírito de luta que, de nós, faz a sua morada

Supostamente mais perene, segura

E onipotentemente impávida.

Sei que cada vez mais arguta...

Sei que, cada vez mais soturna,

Ela penetra corrosiva na mente

Oclusa em infinitos icebergs de esquizofrênicas realidades lúdicas

E de maledicência absoluta.

Ah, mas hemos de vos debelar, intangíveis e entorpecedoras Fortalezas insuplantáveis de sofisticadas cuiudas!

Com efeito, a verdade é que, á medida que escalamos

A montanha hilariante, nos aproximamos do ponto

Em que não se sabe se jazemos na masmorra de um sonho

Ou vivemos a realidade.

Sim, falo, desta maneira, porque tamanha é a grandeza

Da homogeneidade que os irmana e os norteia.

Sim, como dói não saber se o que vivemos

É cruel realidade ou dantesco sonho.

Ah, como dói não saber se nascemos numa Pátria,

Num País-Circo, no majestoso Cosmo altaneiro

Ou se apenas putrefamos diariamente num Circo-Mundo!

Afinal, dói não saber se somos ainda força realizadora

Ou fantasmas inconscientes de seu próprio falecimento

A andar por conhecidas ruas.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA