OLHOS VENDADOS

Sentado na pequena

sala de fotografias,

bem ao sopé do edifício,

de costas para o pátio

das viaturas da repressão.

Vem a mão fantasma,

cobre do "camarada" a cabeça:

um preto e fétido capuz.

A seguir, um par

de mãos vigorosas

faz erguer-se o "companheiro",

e o preso - ilegalmente -

metido num veículo apertado.

De barriga no espaldar

do carro - seria Volks? -,

para que, lá fora, ninguém

lesse as feições do preso.

Um traseiro gordo

a espremer-lhe os ossos do lombo

e o preso com os olhos

vendados nos confins da noite.

- Este, o retrato de uma época

que se pôs na lata do lixo

da História.

Fort., 09/11/2008

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 09/11/2008
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