A SECA
O sol catuca de cima
numa insistência de seta.
A terra, quase um tição.
Aves foges, mato seca.
Falta d'água: insolação.
O homem, que é forte, teima
em prender-se no "seu" chão.
Ilude-se, olhar no céu.
Mas, de lá, não chove, não.
Esperanças, tudo ao léu...
Seco o verde, morto o pasto,
morto o gado, sem ração,
o sertanejo da seca,
já sem alimentação,
tem fome e sente enxaqueca.
Pela mão da natureza
açoitado, no sertão,
esse forte faz doideira:
larga as terras do patrão,
que a fome é má conselheira.
E emigra pela distância,
sob um sol que o vai queimando
- agora em levas de irmãos -,
sem noção de onde ou quando
vão ter dias menos vãos.
Por fim, batem nas cidades,
em hordas, pobres, sem luxo,
ver aves de arribação
- mulheres (muitas de bucho)
e homens famintos, sem pão.
Fort., 07/11/2008