PALAVRAS PÓSTUMAS
Aqui jaz o pensar morto em faces de limo no subsolo,
pungente visceral em letras findas e gélidas.
Em rosto de poema soturno coberto por vermes;
o adubo para o nascer das lepidópteras lúcidas.
São os ventres livres que se firmam a cada ciclo,
sensíveis a fagulhas possíveis da existência.
Se dando conhecer pelo desprendimento,
dos exoesqueletos que antes eram as máximas sociais,
e que agora se regram putrefatos em palavras pueris.
Sepultou-se entre raízes toda a fraqueza dos traços,
e vigorosa seiva escorre em novas direções.
O pulsar cessou e deste brotaram gerânios,
cada junco testemunha o seu transformar ao sol,
cada verme traz a contrapartida do novo.
É o ser transcendental em sua pátria de destino,
em desalinho produzindo harmonia,
a vida pulsando na morte de todos os preconceitos
que nos impede a paz das aves livres.
É o triunfar do self desperto, a diversidade social
florescendo no cadáver destes atos e palavras insanos.
Extirpados por produzirem a discórdia,
a animalidade e retrocessos humanos.
É a morte dos pensamentos obtusos, cruéis;
tornando possível a convivência social, a paz.
Renascer, e saber ser preciso um nascer constante.
Londres, 2008