CAÇA ÀS BRUXAS
Anos sessenta-setenta...
A burrice
assume linha de frente
na voz do diz-que-me-disse
de um regime prepotente.
Era tanto o rebuliço,
e tamanha
a "caça às bruxas", que a face
do País, então, se banha
de prisões, noite e disfarce.
Em cada canto ou rincão,
a mesquinha
figura de um dedo-duro,
mesmo não sendo de rinha,
mau caráter, sem futuro.
Tal havia deduragem,
como água
na corrente da planura,
e ai! de quem guardasse mágoa
dos donos da ditadura.
Tão intensa a delação,
que um meganha,
lá do seu departamento,
feito fosse o rei de Espanha,
tudo pegava no vento.
Um tempo sem liberdades,
de patranha,
com berros de capitão,
de coronel e da sanha
dos generais de plantão.
Até na sombra de alguém
a miséria
da reação doentia
era sempre deletéria
e em tudo "esquerdista" via.
Exílios, mortes, tortura
- leis dos "tiras"
do regime de exceção;
cerco à guerrilha, mentiras,
civis contra a delação.
Fort., 1º/11/2008