DIAMANTES SEM A LUZ DO GIRASSOL

DIAMANTES SEM A LUZ DO GIRASSOL

Orvalhos do crepúsculo pairam e vertem do céu:

Perdas e dolências profundas

Cravam seus ferinos dentes

Nos sobreviventes da chacina nefanda, dantesca, absurda, cruel!

O vírus do desdém aos plebeus e ribeirinhos da vida humana

Grassa, de maneira pensada, insana,

Célere, exultante, tirana;

Enquanto a nobreza da monarquia de Pandora

Chora copiosas cachoeiras auspiciosas de alegria,

Camufladas em acuidosos e sardônicos

Vulcões indômitos de revolta, ira?

Ah, a empresa dos magos da ácida chuva,

Querem transformar as presas da eterna cavalgadura

Em falanges produtoras dos sortilégios da era da impiedosa voragem

Ininterrupta

E em devotados operários das ditosas alamedas da rapina profusa,

A fim de que, após o gozo, os magnos timoneiros da aleivosia soberana

Possam transmudá-los em cadáveres sem lápide nem sepultura,

Muito menos hosana alguma.

Ah, mas estas desventurosas criaturas

São, também, jóias que vicejam

E, ao serem esmeriladas,

Tornam-se airosas pedras preciosas da Mãe-Natura.

Entretanto, com o fluir da sua longa e dura andadura,

Perdem o brilho da candura,

Comutando-se em diamantes sem a luz do girassol:

Tétrico mar imensurável da desesperança,

Que, aos quatro cantos,

Brada, berra, devora e expande

A sua presença funesta, soturna, medúsica, a peçonha da Preta Mamba!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

JESSÉ BARBOSA
Enviado por JESSÉ BARBOSA em 29/10/2008
Código do texto: T1254071
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