Vem!
Trêmulas as mãos se aquecem,
e no aconchego do espaço, os braços
desatam a chamar a ave matutina.
E de nada se sabe do barulho dos homens,
na quietude de dias meditados.
O reinado é de quem aprendeu o silêncio,
do agir que se processa de dentro para fora,
do amante que fez da noite o seu poema,
da amada que fez da serenidade o seu pulsar,
e da ave que habita o melhor de nós.
Vem! Escalas as candeias da vida,
e defendes na aurora a conquista da paz.
Os traunsentes logo chegarão aos milhares,
e aprenderão contigo a ter olhos de águia.
Pois da esfera se colher as multiplicidades,
e são elas que te latejam os poros.
Vem! Este é o tempo dos sinais,
o avesso de cada um, o ser e o “ser”.
Das apostas que se fazem pela fé,
pelas causas naturais e sonhos.
Por palavras que trazem mudanças
e irradiam-se além da aurora boreal.
O que será de nós, se acaso desistirmos?
E se dormirmos em cima da ponte das horas?
Teremos o peso dos séculos na garganta,
e asas molhadas a nos precipitar a abismos,
e vidas desfeitas e ausentes de amor,
e pesadelos em vez de sonhos.
Vem! Façamos a diferença...
Paris, 2008