GOROTOS DO RIO
Patamar da Candelária,
centro, Rio de Janeiro.
Sete corpos estendidos,
sete produtos da fome,
sob esse céu brasileiro.
No desvão da madrugada,
sem lençol, e, logo, fria,
sete dormindo sem teto,
sete vítimas no asfalto,
mortas por fuzilaria.
E que mãos detonariam
contra o peito dos meninos,
contra as cabeças infantes
desses alvos sem defesa,
presas fáceis de assassinos?
O Estado, a que caberia
dar paz e lar às crianças,
é que armou braços covardes
que a sete mães lhes ceifaram
o vir-a-ser de esperanças.
Matar resume a violência
que assola de sul a norte,
mas, se é caça a nossa infância,
sob as balas da polícia,
que amanhã terá, que sorte?
Ai, cadê as leis do Estado
que alardeiam proteção
à criança e à adolescência,
mas que lhes negam dar vida,
e livros, e mesmo o pão?
Urge, pois, que apure o caso
desses gorotos do Rio,
e o de milhares ainda,
a Justiça brasileira.
Punição é o desafio.
Fort., 18/10/2008