UM GESTO
A gente escuta no peito
o vagir do coração,
quando se vêem crianças
pedindo um naco de pão.
Elas se vão pelas praças,
aí, em geral, seu lar,
onde a vida lhes impinge
as pedras que irão pisar.
O que deveras compunge
é saber que esses miúdos
podiam traçar um rumo,
se fossem para os estudos.
Mas a vesga mão de Estado,
por omissão disfarçada,
entorta os passos infantes
de uma grei abandonada.
E a meninada de rua,
na rua, melhor diremos,
só precisa mais de um gesto
e de pão já muito menos.
Fort., 08/10/2008