O PALCO E A SOCIEDADE
O Brasil sobe ao palco, com sua cara de índio e falsa brancura;
Parodiando sua página escura e escondendo as correntes que prosseguem;
Os fantasmas de colônia que lhe perseguem ainda ditam sua compostura;
Cultura inculta como armadura, novas flores e espinhos que ainda ferem!
Os ricos sobem ao palco, com suas lágrimas de réptil misturadas a vinho branco;
Empurrando os excluídos no barranco, mantendo os cães aquém de seus portões;
Na mesa do poder são glutões, na missa de domingo modernas indulgências comprando;
Seus dejetos à nação afrontando, enquanto suas vítimas e os abutres se enfrentam nos lixões!
A base da pirâmide sobe ao palco, com as costas marcadas e os bolsos vazios;
Com o fogo da fome aquecem seus calafrios, refugiados nas favelas que a justiça ignora;
Pretos e pobres com crachá de escória, vencendo com garra seus desafios;
Causando na elite arrepios, que faz sua parte aumentando as trancas da porta!
A mídia sobe ao palco, trazendo em bandejas sua contribuição ao caos;
Servindo aos grandes e maus, alienando as massas programadas;
Tramas editoriais nos porões articuladas, salas de jantar reduzidas a curral;
Reinventando a moral, segundo as ordens de suas vozes conspiradas!
Os governos sobem ao palco, trazendo seu amor bienal à coletividade;
Pedindo nas urnas a nossa efetividade, e tributando os açoites que nos pagam;
Não são eles que nos estragam, pois quem os fabrica é a cultura dessa mentalidade;
Um pão pela cidade, e os fossos da pobreza que então se alargam!
Os poetas sobem ao palco, tomando chá das cinco enquanto o povo não tomou café;
Fazendo estrofes inacessíveis à ralé, ocupando a cabeceira da burguesia;
Nas lutas sociais mostrando covardia, fazendo versos que não vão além da fé;
Dando um tiro no próprio pé, servindo a quem nega ao mundo a verdadeira poesia!