NÓS, ENCONTRADOS...

«... e eu, perdida nela

escrevesse

o mesmo

pranto...?»

(Poeta Galega, «O mesmo pranto»

publicado no RdL em 23/09/2008.

Código do texto: T1193333)

Nela... na noite ... na negra sombra... nas noites

sempre escuras, se apenas olhadas face ao chão

(com licença da contaminação lumínica

com que os administradores das cidades

—eles insistem em lhes dizer nossas... ironia ou burla

ou simplesmente ditadura democraticamente grosseira—

nos presenteiam malbaratadores...),

porque, olhadas com a cabeça erguida, levantada

face ao céu, agora universo dos milhares de olhos

ingénuos e cândidos das deusas e dos deuses

que lá habitam, no outro lado da noite,

no dia eterno esplendoroso, em que os prantos

carecem de sentido, em que os prantos abandonaram,

como crianças que conseguiram à idade

adulta e responsável, a elegia e navegam líricos

e camonianos por epopeias de classicismo revolucionário,

por episódios impossíveis de ser só

recitados, mas que precisam ser celebrados por coros

de gentes generosas e humanas, radicalmente

humanas, a toda a orquestra:

conjuntos épicos,

«Corvos da liberdade», a trocarem a barca

“salvadora” pela jangada livre, não cingidos

à «Festa na lembrança», que foi, mas que anuncia

a euforia que já é e será, que desistiu

das vestes do pranto e das lágrimas do luto.

Será nesse momento luminoso e nesse lugar

de auroras que todos nos encontraremos,

todos os que hoje andamos no extravio,

como amaldiçoados pelos deuses

(mas não pelas deusas, benignas sempre)

que nos observam desde os milhares

de olhos da noite tão escura quanto divina.