ESQUINA DA RUA 55 (COR)
Esquina da Rua 55
Quando a incompreensão pinta na vida da gente,
Atropelando a nossa vontade de viver.
Vem uma depressão danada,
Chega a contra gosto em nossa frente .
Vemo-nos diante de uma força incontida,
A nos levar num impulso automático,
Para onde a vida encontra a sua sina,
Sem querer ou perceber nos vemos na esquina
da rua Cinqüenta e Cinco .
Aquela dor opressa dentro do peito,
Com sabor de não sei o quê
Aperta como se o coração da gente fosse estourar ;
Vem aquele gosto horrível de chifre na boca,
E cheiro angustiante de enxofre em nossa atmosfera íntima.
Ah, a vida vai acabar,
O chão desaparece sobre o nossos pés ,
O céu dantes tão azul transfigura-se,
Fica com aquela cor de burro fugido
Com pintas da mesma cor por todos os lados.
Agonia intensa nos atormenta,
Procuramos sempre consultar com esse psiquiatra natural ,
Cujo divã vermelho escarlate, transforma-se ,
Num passe de mágica em verde claro repousante ,
Encontrando na linha infinita que divisa no horizonte,
O azul celestial cujo tom claro é recortado por brancas nuvens tom pureza.
Por mais que procuro a razão, não acho,
Ali é tudo comum como outro lugar qualquer,
Outro bairro, Outra cidade, quem sabe,
A energia humana que ali se concentra,
Nos leva a sentir quando ali estamos um bem estar inexplicável
Que nos devolve a vontade de viver.
Força estranha surgida das entranhas do inexplicável,
Talvez seja pelo astral dos transeuntes apressados, reencortados
pelo zigue-zague dos passos, a procura do destino e da verdade de cada um .
Pelo camelô reclamando da féria diária,
O motorista de táxi , satisfeito pela corrida que fizera
Ainda anteontem à Senador Canedo ,
O vendedor soltando baforadas de fumaça no seu fedido cigarro barato,
As crianças uniformizadas transitando a procura do saber
Ou do descanso merecido após jornada árdua de estudos.
A velha pedinte suplicando por mais alguns trocados,
Ou a moça bonita com seu trepidante andar macio,
Sacudindo atravez da camiseta fina e surrada os seios deveras provocantes.
O ponto de ônibus da Goiás sempre cheios de pessoas a procura do destino perdido, bus lotado de sonhos e ilusões escondidas no fundo da alma.
Muitas vezes também o cheiro de pessoas mal higienizadas
mas que fazem parte da vida, desta loucura viva e permanente , é sentido .
Uma buzinada e um palavrão do condutor de carro mais afoito que levara uma fechada.
O cheiro gostoso de frango assado com pimenta bode,
Vem do restaurante sujo, mas super freqüentado.
O suco de laranja com mamão sem açúcar e sem gelo,
Que nos é servido com o sabor sempre inalterado,
Feito pelas mãos profissionais do serviçal sorridente da lanchonete.
Um grupo de teatro amador fazendo laboratório e ensaiando alguma peça qualquer,
Bem no meio da ilha, onde curiosos e indiferentes passavam de ombro a ombro.
O bicha esvoassante e escandaloso que procura adoidado aquilo que não perdeu,
Ou melhor, perdeu e não consegue, por mais que procure, achar.
-Olha o pequi, oferece um vendedor barbudo de boné velho, bem surrado.
-Olha a manga sabina , barata , oferecido pela mulher com barba serrada e vestido sujo e amarrotado
- Quem quer comprar jabuticaba doce e pretinha , só um real o litro , gritava o velho branco,
Usando roupas estranhas, mas com uma postura aritoscrática .
- A cobra, quem quer comprar o bilhete da cobra, anuncia o cambista,
Ora calmo, ora nervoso, mas sempre impertinente; chegando mesmo a nos desafiar.
Uma boa tarde, um bom dia , uma boa noite ,
Fazem parte desta moldura bucólica daquele recanto animado da cidade.
Não sei porque , só de ficar alguns minutos ali, parado,
Admirando o burburinho de tudo ,
É o mesmo que tomar uma dose dupla de revigorante ,
Sinto as forças renovadas,
A depressão vai embora.
Volto a viver como se tivesse nascido,
Que força estranha tem essa esquina tão comum como outra qualquer,
Talvez ali a energia seja dobrada como os algarismos que a identificam.
Como ela é igual e tão diferente das outrras.
Será para todo e sempre a esquina da rua Cinqüenta e Cinco.
Aonde eu vou quando preciso, tomar uma vacina contra o mau humor,
Contra o negativismo.
Até amanhã esquina da saudade e de minha renovação íntima.
Até.
Goiânia, 18 de setembro de 2008.