SOB O ÚLTIMO SOL


Cristiano;
Treze horas, treze anos,
Muitos danos,
Automática na mão,
Olhos arregalados,
Encurralado,
Numa antiga construção,
Mais um tiroteio, mais um infeliz,
Na mira dos fuzis.
-Puta que pariu! Exclamou;
Sentiu que sua vez chegou;
Fim de uma infância perdida,
Nessa “massa falida”,
Pão que não fermentou,
Liberdade que não voou...
Revoltado e só,
Amaldiçoa a vida inteira,
Tira do bolso a carreira,
Cheira apressadamente o pó,
Sai em disparada,
Ao encontro da morte anunciada,
Bang, bang, bang...
“tá lá o corpo estendido no chão”,
Encharcado de suor e sangue,
Sob o último sol.
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Sentada no meio fio,
Com o rosto entre as mãos,
A mãe em dor, o pranto,
Um lamento sem estribilho,
Ao ver o seu único filho,
Coberto por um velho lençol,
A voz soa com tremor;
-Por que tanta desgraça Senhor?
E ele que sonhava tanto!
Ser um jogador de futebol.