Carta à minha mãe distante
Mãe,
tenho sentido que esse mundo
não foi feito pra mim
tudo ainda é um mistério profundo
um enigma sem fim
dizem por aí que somos racionais
e sempre donos da verdade
inventam mil coisas e naves espaciais
e não cultivam mais o amor e a amizade
tenho medo até de mim mesmo
meus próprios pensamentos me traem
fazendo minha consciência ficar á esmo
o bem e a paz os dias me subtraem
quase ninguém houve samba ou bossa
curte a natureza e os bichos
e sim houvem funk que é uma bosta
e sujam a cidade com ideologias e lixos
Mãe,
Será que posso voltar a ser criança?
Preocupar em ver sessão da tarde?
Roubar manga dos quintais da vizinhança?
Chorar á toa com o corte do dedo que arde?
Ser mais bonzinho pelo presente de natal?
Me assustar com o Sací, mula-sem-cabeça e o Caipóra?
Matar aula fingindo passar mal?
Bater bola com a molecada lá fora?
Mãe,
Será que você poderia cantar mais uma vez uma cantiga de ninar?
Estou cansado de tanto brincar de ser gente grande de verdade