ENGAJAMENTO SEM CHEIRO.
Se a tv transmitisse o cheiro das coias
O dinheiro na cueca teria cheiro de merda
O presidente com cheiro de aguardente
A primeira dama com perfume francês
O Gilberto Gil com maresia
O Delúbio com cheiro de remela
O Dirceu com cheiro de mofo do porões da democracia petista
O lixão com cheiro de lixo
E as imagens daquela gente pobre afetaria mais a nós todos.
Mas, que benção para o Regime já antigo que temos,
O cheiro que mais afeta a nossa sensibilidade
Não é transmitido via satélite.
Assim, não sentimos o bafo de aguardente e outras bebidas
Em nossos parlamentares no expediente
Nem o peido corrupto que soltam nos elevadores privativos
Não sentimos o cheiro da pólvora queimada
Nesses tiroteios cirúrgicos da TV
Que parecem brincadeira de bangue bangue de criança
Posto que não sentimos nada, só uns tirinhos sem afetação.
Pela TV, não nos vem o cheiro e dimesão da dor.
O cheiro do sangue, da putrefação, da gangrena, da pustulenta ferida, da carniça misturada ao alimento dos catadores de lixo, das fragâncias importadas dos corruptos.
O que não afeta este sentido parece irreal, algo além da nossa dimensão. Talvez por isso, o verdadeiro engajamento polícito-social ocorra somente nas ruas, com suor, cheiro de pólvora, cheiro de porrada.
No mais, ficamos com a bunda chata vendo pela TV alguma ficção de um país fora do mapa da nossa existência.
O dia que um gênio inventar um dispositivo
Que trasmita a percepção do cheiro pela TV
De duas uma. Ou vai ser banido para além do seu túmulo ou cairão os regimes que massacram o povo sofrido nessa inércia televisiva de bundão.