Atrasado, só resta esperar

Subo as escadas, conto o tempo.

- Talvez chegue atrasado. - Penso. E chego!

Mas ainda estou ali a olhar o mar,

reparo nas gaivotas bailando ao azul

com vestígios de poucas nuvens.

Páro, olho pelos lados, ninguém conhecido.

Nenhum bom-dia, nenhum sorriso.

Nenhuma piscadela indiscreta, secreta, certa.

Apenas eu ali, e os aviões a chegar, a saírem

levantando água pela Baía

poluída - inclusive por mim.

Retorno novamente o meu olhar para dentro da embarcação

e reparo nas pessoas sentadas, outras de pé, em frente à janela.

Algumas conversam, outras lêem, muitas dormem,

poucas também observam. E me observam...

Sou devorado por olhos idênticos aos meus

que rasgam-me, que injetam um orgulho doce e avassalador.

Retribuo o olhar, e chego ao destino.

Desço as escadas, olho a hora, passei cinco minutos.

Saio da estação, só vejo ao longe pássaros voando

e bem perto a mim o sol reluzido à prata, à estanho também,

Não procurei por aqueles olhares compenetrantes,

sorri e segui meu caminho, pois estava atrasado.

Raphael Semog Ribeiro
Enviado por Raphael Semog Ribeiro em 24/08/2008
Reeditado em 24/08/2008
Código do texto: T1143040
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