Atrasado, só resta esperar
Subo as escadas, conto o tempo.
- Talvez chegue atrasado. - Penso. E chego!
Mas ainda estou ali a olhar o mar,
reparo nas gaivotas bailando ao azul
com vestígios de poucas nuvens.
Páro, olho pelos lados, ninguém conhecido.
Nenhum bom-dia, nenhum sorriso.
Nenhuma piscadela indiscreta, secreta, certa.
Apenas eu ali, e os aviões a chegar, a saírem
levantando água pela Baía
poluída - inclusive por mim.
Retorno novamente o meu olhar para dentro da embarcação
e reparo nas pessoas sentadas, outras de pé, em frente à janela.
Algumas conversam, outras lêem, muitas dormem,
poucas também observam. E me observam...
Sou devorado por olhos idênticos aos meus
que rasgam-me, que injetam um orgulho doce e avassalador.
Retribuo o olhar, e chego ao destino.
Desço as escadas, olho a hora, passei cinco minutos.
Saio da estação, só vejo ao longe pássaros voando
e bem perto a mim o sol reluzido à prata, à estanho também,
Não procurei por aqueles olhares compenetrantes,
sorri e segui meu caminho, pois estava atrasado.