A VIDA POR ELA MESMA
Todos os dias Rita faz café
Todos os dias José faz reboco
Quando sobra tempo eles vão ao bar
Mas só de vez em quando.
Lá, tomam a cerveja que poderia ser o pão da semana.
Só que preferem pensar nisto depois
E, quando pensam e lembram, acabam saindo no pau.
E não é coisa de discutir relação.
As brigas terminam com o camburão na porta do barraco,
Todos os dias Rita pensa em mudar de vida.
E sonha.
Enquanto come a comida fria que leva para a obra,
José também imagina dias melhores.
Os filhos vão para as sinaleiras.
Pedem uns trocados e, cansados,
Vão para a escola porque querem a merenda.
Ás vezes não tem.
Quando tem, eles se empapuçam...
Cada um é de um pai,
Mas José não se importa...
Rita também não lembra mais quem é de quem.
Foram tantas barrigas, tantos homens e a mesma vidinha de sempre.
O mais novo, ela lembra, é de José e ainda mama.
Não porque Rita saiba da importância disso.
Se não fosse o leite materno, o jeito ia ser mingau de farinha.
Assim ela foi criada e assim ela fará quando o leite secar dos seios murchos.
José transa pelo menos duas vezes por semana.
Não gosta de camisinha e tem sido fiel a Rita,
Não por amor ou lealdade.
Na verdade, o trabalho não lhe deixa tempo
Nem disposição para cair nos braços de outra mulher.
Rita sabe disso
E também não ama José.
Fica com ele por costume.
Foi assim com os outros e não seria diferente agora.
Rita e José não nasceram um para o outro
E nem acreditam neste tipo de coisa.
Eles são pobres e miseráveis como os pais deles
E só vivem a esperar um dia após o outro.
E Rita faz o café que José toma.
Café ralo e sem gosto.
Ele segue para o serviço
E ela vai fazer faxina na casa da grã-fina,
Onde não pode comer frutas nem parar de trabalhar por um segundo.
Quando se encontram no barraco
E todos ficam embolados
Rita, José e a renca de filhos
Não há prazer nem palavras.
O sono chega logo
E eles agradecem
E até oram por isso
Porque dormindo,
Esquecem da fome a roer seus estômagos,
Feito uma ratazana
Como tantas que passeiam pelo chão da casa simples
Cheirando à falta de tudo.
Todos os dias Rita faz café
Todos os dias José faz reboco
Quando sobra tempo eles vão ao bar
Mas só de vez em quando.
Lá, tomam a cerveja que poderia ser o pão da semana.
Só que preferem pensar nisto depois
E, quando pensam e lembram, acabam saindo no pau.
E não é coisa de discutir relação.
As brigas terminam com o camburão na porta do barraco,
Todos os dias Rita pensa em mudar de vida.
E sonha.
Enquanto come a comida fria que leva para a obra,
José também imagina dias melhores.
Os filhos vão para as sinaleiras.
Pedem uns trocados e, cansados,
Vão para a escola porque querem a merenda.
Ás vezes não tem.
Quando tem, eles se empapuçam...
Cada um é de um pai,
Mas José não se importa...
Rita também não lembra mais quem é de quem.
Foram tantas barrigas, tantos homens e a mesma vidinha de sempre.
O mais novo, ela lembra, é de José e ainda mama.
Não porque Rita saiba da importância disso.
Se não fosse o leite materno, o jeito ia ser mingau de farinha.
Assim ela foi criada e assim ela fará quando o leite secar dos seios murchos.
José transa pelo menos duas vezes por semana.
Não gosta de camisinha e tem sido fiel a Rita,
Não por amor ou lealdade.
Na verdade, o trabalho não lhe deixa tempo
Nem disposição para cair nos braços de outra mulher.
Rita sabe disso
E também não ama José.
Fica com ele por costume.
Foi assim com os outros e não seria diferente agora.
Rita e José não nasceram um para o outro
E nem acreditam neste tipo de coisa.
Eles são pobres e miseráveis como os pais deles
E só vivem a esperar um dia após o outro.
E Rita faz o café que José toma.
Café ralo e sem gosto.
Ele segue para o serviço
E ela vai fazer faxina na casa da grã-fina,
Onde não pode comer frutas nem parar de trabalhar por um segundo.
Quando se encontram no barraco
E todos ficam embolados
Rita, José e a renca de filhos
Não há prazer nem palavras.
O sono chega logo
E eles agradecem
E até oram por isso
Porque dormindo,
Esquecem da fome a roer seus estômagos,
Feito uma ratazana
Como tantas que passeiam pelo chão da casa simples
Cheirando à falta de tudo.