A DEMOCRACIA DEBOCHADA
Na República Democrática do Continuísmo, tudo é provável exceto o possível;
Aqui a face honesta é horrível e a máscara da esperteza é louvável;
A dignidade por aqui é o razoável e a mentira é sempre crível;
Quem nos desgoverna é o discurso impossível, nossa glória é a sobrevivência miserável!
Trocaram as senzalas por favelas, trocaram livros por novelas;
Eles viraram elas, e o racismo branco virou quota para negro;
No lugar do prazer o preço, em vez de curas só seqüelas;
Nesse paraíso de vadias donzelas, o idioma da verdade é grego!
Na terra do dízimo redentor, larápio costuma ser chamado de doutor;
O chefe é o moderno feitor, e as fezes do corrupto têm cheiro de inflação;
Ou se ganha na mega ou se vira ladrão, pra deixar de ser escravo e virar senhor;
E a pancada que em muitos geraria dor, parece um beijo na cara fórmica da corrupção!
A nossa imprensa é tão livre, que quase toda sobrevive de parlamentares;
Nossas belezas são vulgares, mas o Brasil é futebol e carnaval;
Taca neles, Congresso Nacional!... E segue a lida com seus pesares;
E que em vez de lares, que cada casa aceite o seu destino de curral!