Um olhar

No meu mundo interior
Vejo um sol de meio dia
Queimar os pés magrinhos
De crianças em agonia...

Têm nos olhos opacos
A luz apagada da esperança
Falta-lhes uma côdea de pão
E a fantasia da infância...

Parece que a vida
Enrodilhou-se por dentro
E da parte vivida
Restou um corpo sedento
De alma caída...

São seres esquecidos
Que tento recolocar
Na mente de mulheres e homens
Que se dizem cidadãs e cidadãos
Que somem simplesmente...
Mas aparecem quando é eleição.

Idéias insolentes
De mentes apagadas
Num mundo inconseqüente
Onde tudo virou noite...

E a negra noite devorou tudo:
As crianças sem esperança...
Decepou desejo, sonho, ilusão
Na realidade da autofagia
Nesse mundo sem pão...
E isso não é magia, não!

Volto a olhar e miro
Miro e vejo: aqui, ali, adiante
Crianças de carinhas sujas
Pés no chão, sem alegria
Nas mentes apenas “garatujas”...


... De sonhos roubados
Apagadas as belas fantasias
No sol de meio dia... 
Um olhar...