E agora Maria?

E agora Maria?

E agora Maria, o dinheiro esvaeceu

a comida terminou, o seu homem sumiu

O dia findou, e agora Maria?

E agora tu, que és sem sobrenome?

Que chora pelos filhos drogados

Tu que não sabes escrever

Que ama, grita e esperneia

cada vez que um filho se vai para o tráfico.

Não tem macho, está sem alucinação

O sexo se foi, já não vive nada

já não pode dançar seu pagode

beber já não pode,a tolerância é zero

O sonho acabou, a juventude foi embora

E a felicidade não veio.

Tudo finalizou, tudo esquivou e tudo zombou

E agora Maria? Sobraram as pontes?

E agora Maria? Cadê os sonhos de menina?

Seu doce sorriso, seu rebolado ativo

Sua paixão desvairada pela vida?

Quer voltar pra casa?

Não existe lar, as drogas mataram

Não existe abertura nas portas ou janelas

da arquitetura das pontes do Brasil

Quer um banheiro, um espelho pra se enfeitar

Não existe espelho, ele se espatifou no crack .

E agora Maria?

Se tu gritasses, lamentasse

Não adianta, a policia te pegaria

Se tu perecesses, mas tu não morres

És árdua, feita as pedras brancas

Que te consomem na tua fome.

Sozinha no escuro da noite vazia

Qual um bicho perdido da mata

Sem tapume quente pra te aquecer

Tu marchas Maria com teus andrajos

Maria, marchas pra onde com tua agonia?

É uma paráfrase do poema Jose, de Carlos Drummond de Andrade

Isa Piedras

02/08/2008