Um Mendigo

Numa noite escura, silenciosa,

Nenhum barulho se ouvia.

Era uma noite de inverno rigoroso,

Sozinho, sem nada,

Pela calçada ele ia.

Seus passos ecoavam leves no chão.

Um cigarro aceso entre os dedos.

Seu rosto era de uma sombria expressão:

Não demonstrava amor, raiva nem medo.

Seu olhar parado em qualquer ponto,

Parecendo querer ver o que não havia.

Talvez naquele olhar já não houvesse mais pranto

Para chorar pela dor que ele sentia.

Sua roupa suja, esfarrapada,

Deixava aparecer seu corpo moreno.

Ali, naquele corpo já não sente mais nada

Nem o frio da noite, nem o sereno.

Assim sozinho ele seguia,

Sem destino, sem ter onde parar.

As crianças, ao vê-lo, dele riam

E nós, se o virmos, iremos chorar.

Ninguém nunca soube a causa daquilo:

Não se sabe se desgosto, remorso ou castigo.

Para passar de uma vida luxuosa que ele tinha

Para um farrapo de gente,

Um pobre mendigo.

(Lenir MMoura)